sexta-feira, 1 de julho de 2011

Os planos de Deus: os milagres em minha vida

Quando eu tinha 7 anos de idade sofri um acidente de carro. Ontem a noite, sentada na mesa com meu pai, começamos conversar sobre minha infância e não teve como fugir desse assunto. Sempre ouvi meu pai contando sobre a experiência, mas nunca ele nunca tinha contado especificamente pra mim.
O acidente ocorreu no dia 21 de novembro de 1998, por volta das 20:00 e 21:00 horas, na BR 116. Tínhamos ido para uma cerimonia de casamento e a recepção seria na Fazenda Rio Grande, próximo de casa. Meu pai trabalhava como vigilante e nesse dia ele estava trabalhando. Ele conta que seu coração estava apertado e por mais que orasse e lesse a Bíblia o aperto não passava. Por volta de 15:00 horas, chegou o senhor que ficaria no lugar dele pra que ele pudesse ir ao casamento.
Nós tínhamos um carrinho, um Monsa, mas lá em casa ninguém tinha carteira de motorista ainda, por isso meu pai convidou um amigo da família para ir com a gente e dirigir o carro.
Enquanto nos arrumávamos, meu pai havia pego sua cinta e não sabia onde tinha colocado. Aquele aperto em seu coração e o desaparecimento da cinta fizeram com que meu pai desistisse de ir. Eu lembro de vê-lo sentado no sofá da sala e eu ir até lá mostrar meu novo vestido pra ver se assim eu causava alguma reação nele pra que ele fosse. Nada aconteceu. Meu irmão e o rapaz saíram chateados, mas prometeram ao pai que voltariam em casa pra levá-lo no restaurante.
Fomos ao casamento, o rapaz, meu irmão, minha mãe, eu e a filha do rapaz que tinha 3 anos. Como meu pai não tinha ido, a esposa do rapaz voltou em nosso carro com seu bebezinho de colo. Naquela época não tinha essa conscientização que hoje temos: voltamos em sete pessoas no carro (4 adultos e 3 crianças).
À caminho da Fazenda Rio Grande, uma carreta num contorno não aguardou os carros passarem e atravessou a BR. Nosso carro era o primeiro e vinha em alta velocidade. Metade do carro entrou debaixo da carreta. Os que estavam atrás foram arremessados. Meu irmão e o rapaz ficaram presos. A esposa do rapaz juntamente com seu bebê, faleceram na hora. A filha do rapaz não teve ferimentos graves, o restante foram levados para o hospital Cajuru, em Curitiba.
Desse momento eu não me recordo nada. O único que estava consciente era meu irmão. Meu pai logo foi avisado e ele imediatamente quis ir até o local do acidente. As pessoas falaram para ele não ir, mas mesmo assim ele foi. Pela sua reação ninguém esperava. As pessoas vinham até ele para dar uma palavra amiga e ele dizia: “Deus é soberano, sabe aquilo que faz”.
Já no hospital, meu pai entrou no consultório médico com minhas tias Carmem e Zeli. O médico disse que meu irmão e minha mãe estavam bem, mas que eu corria risco de morrer. Eu estava na UTI e meu pai não pode me ver. Naquela noite ele foi pra casa e não conseguia dormir. Contou que orou e chorou cerca de duas horas sem parar. Fazia 6 dias que minha irmã tinha ganhado bebê e por isso estava lá em casa. Meu pai conta que ela chorou com ele pela minha vida.
No domingo de manhã as pessoas não paravam de chegar lá em casa. Os vizinhos bem cedo queriam saber como que estávamos. Também foi um irmão da igreja, Dércio, que disse ao meu pai que estava orando por nós e que não era pra ficar preocupado, pois Deus não me recolheria.
Meu pai foi ao hospital cedo. Na hora do almoço foi até um restaurante que tinha em frente para almoçar, já que se completava 24 horas que não comia nada. Ele pediu uma coca e quando ele foi comer, ele se lembrou de mim e um pensamento lhe veio a cabeça: “A Ane deve estar com fome...”. Ele afastou o prato e não conseguiu mais comer.
Mais tarde no hospital, chamaram meu pai e disseram que eu havia saído do coma e que era para alguém ficar comigo para que quando acordasse eu não chorasse. Meu pai ficou comigo. Ele ainda não tinha me visto depois do acidente. Disse que ficou espantado ao me ver, pois meu rosto do lado esquerdo estava em carne viva, meu braço também estava quebrado. Quando eu acordei e o reconheci a primeira coisa que disse era que estava com fome e pedi pra que ele comprasse um salgadinho. - Quando ele me contou isso, choramos juntos na mesa...
Ele disse que naquele momento fez uma promessa que tudo aquilo que eu quisesse comer, ele daria um jeito de conseguir, mas naquele momento era impossível, eu estava proibida de comer. Também sentia muita sede. As enfermeiras traziam em copinhos de café, água para que eu tomasse, me pai disse que eu tomava aquela água com toda vontade, mas que num gole a água acabava.
Dias depois o médico me liberou para ir para casa, meu pai disse a ele que não havia condições pois eu havia chorado a noite inteira reclamando de dor no lado esquerdo do rosto. O médico então resolveu fazer novos raios X e foi verificado que minha mandíbula estava fora do lugar. Não entendo muito, mas o ligamento de um osso com o outro havia se rompido. Foi então que fui para a mesa cirúrgica. Se antes eu não podia comer nada, imaginem agora. “Pregaram” na minha gengiva, tanto em cima como embaixo, uma barrinha de ferro que tinha ganchos e nesses ganhos foram colocados elásticos para que mantessem minha boca fechada e todo alimento devia ser moído e passar por um canudinho, pelo fato de eu não poder mastigar.
O rapaz, uma semana depois, acabou falecendo. Meu irmão e minha mãe receberam alta dias depois. Fui a ultima a sair do hospital e meu pai esteve ao meu lado todos os dias. Era um tanto engraçado, pois todos os dias ele aparecia com uma bandeja de iorgurte, pois era a única coisa “gostosa” que eu podia comer, eu já estava ficando enjoada quando fui para casa - ainda com o aparelho na boca e gesso no braço, mas no final ficou tudo bem.


Depois que tudo aconteceu, nos lembramos que uns homens que faziam campanha eleitoral naquele ano, haviam passado lá em casa e começaram a conversar com meu pai no portão. Falaram que sentiram de orar pela nossa família. Meu pai convidou-os para entrar e fizeram uma oração. Um daqueles homens disse que antes que o ano acabasse Deus daria um grande livramento para nossa família e que havia um laço de morte preparado para mim, mas que estava sendo desfeito naquele dia. Lembro-me de ter abraçado minha mãe e perguntado a ela se eu iria morrer.


Ano retrasado, no meu aniversário, meu namorado fez um vídeo para mim e nele meu irmão disse algo que ficou guardado no meu coração: “Dizem que vaso ruim não quebra, mas eu discordo, vasos escolhidos por Deus, esses sim, não quebram”.
Já se passaram 13 anos, mas esse acontecimento ainda marca minha vida. Tenho a cicatriz em meu rosto e não me envergonho disso. Digo que é a minha marca da promessa. As vezes fico confusa do que Deus quer especificamente de mim, mas sobretudo digo à Ele que onde quer que eu esteja que eu possa ser luz e um canal de esperança.


Depois de conversar e chorar com meu pai lembrando de tudo eu consegui enxergar em meu pai Deus e em Deus um pai. Assim como meu pai chorou e sofreu com meu sofrimento e esteve ao meu lado mesmo quando inconsciente eu estava, assim Deus é o Pai que se comove com nossos sofrimentos e mesmo que não percebamos Ele está ali do nosso lado, esperando o momento que iremos acordar e reconhecê-lo. Ele espera que você peça “Pai, estou com fome” e então Ele se moverá ao seu favor.


Quando comecei a escrever, tocou uma música no rádio que falou profundamente comigo, pois este é o meu testemunho:


Aquilo que parecia impossível,
Aquilo que parecia não ter saída,
Aquilo que parecia ser minha morte,
Mas Jesus mudou minha sorte:
Sou um milagre estou aqui.